A voz inesquecível de Alejandra Pizarnik: um registro de 1972
Ouça a escritora argentina lendo “Escrito com um nictógrafo”, de Arturo Carrera
🔴 Em 1972, poucos meses antes de sua morte, Alejandra Pizarnik recitou trechos do livro “Escrito com um nictógrafo”, de Arturo Carrera, no Centro de Arte e Comunicação de Buenos Aires. Esta gravação de aproximadamente três minutos e meio é o único registro existente da voz de uma das poetas mais importantes da literatura argentina do século XX.
• • • • •
A HISTÓRIA DESSA GRAVAÇÃO começa em 1966, quando o jovem Arturo Carrera, de apenas 18 anos, viaja do interior da Argentina para a capital Buenos Aires. Uma de suas primeiras ações na capital foi procurar Alejandra no catálogo telefônico. Levando cigarros Gitanes e uma tartaruga de brinquedo que movia patas e cabeça, tocou a campainha da casa na rua Montes de Oca 600, onde a poeta vivia com sua mãe. A diferença de idade — ela então com 30 anos, ele com 18 — não impediu que se estabelecesse uma amizade baseada na afinidade poética e na admiração mútua.
Quem conhece apenas a poesia de Alejandra Pizarnik pode se surpreender ao ouvir sua voz. Ao contrário da fragilidade que se poderia imaginar ao ler seus versos íntimos e melancólicos, a voz de Pizarnik revela maturidade e firmeza, embora sob o peso de angústias acumuladas. Sua performance vocal de “Escrito com um nictógrafo” funciona quase como um texto paralelo, onde a modulação se torna elemento fundamental de um poema que trata da morte e da escrita — temas centrais em sua obra. É uma voz que jamais se esquece.
A gravação adquire um significado ainda mais especial quando consideramos o contexto temporal. Em 1972, Pizarnik estava vivendo seu último ano de vida, marcado por crises depressivas severas e internações psiquiátricas. Poucos meses após essa gravação, em setembro de 1972, ela morreria por overdose de Seconal (secobarbital) durante um fim de semana de licença médica.
Esta gravação revela também um momento específico da cultura argentina. Era uma época de efervescência cultural, quando o Centro de Arte e Comunicação de Buenos Aires (“CAyC”) promovia intercâmbios internacionais e Buenos Aires se consolidava como um importante centro artístico latino-americano. O fato de Pizarnik ter escolhido ler não seus próprios poemas, mas os de Carrera, adiciona outra camada de significado: o reconhecimento de um jovem talento e a abertura ao novo. Sua voz criava, ali, uma ponte entre gerações…
Referências
OS FATOS E OS ESCRITORES:
https://es.wikipedia.org/wiki/Alejandra_Pizarnik
https://es.wikipedia.org/wiki/Arturo_Carrera
https://laagenda.buenosaires.gob.ar/contenido/25987-hay-algo-mas-misterioso-que-la-voz (vídeo original)
https://lauragiordani.blogspot.com/2008/12/escrito-con-un-nictgrafo-de-arturo_04.html
https://cvc.cervantes.es/literatura/escritores/pizarnik/cronologia/cronologia_01.htm
https://www.cultura.gob.ar/los-tesoros-de-papel-de-pizarnik-9545/
O LUGAR:
O Centro de Arte e Comunicação (CAyC) foi foi fundado em 1968 por Jorge Glusberg, tornando-se um dos centros mais importantes da vanguarda artística argentina e latino-americana. Pioneiro em videoarte na América do Sul, o CAyC foi o primeiro a adquirir equipamentos Sony Portapak e reprodutores de fita de vídeo de meia polegada para experimentação artística. Foi neste ambiente de experimentação e ruptura que, em 1972, Pizarnik fez sua apresentação:
https://en.wikipedia.org/wiki/Centro_de_Arte_y_Comunicaci%C3%B3n (inglês)
• • • • •



